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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O BIGODE



REIS, Jonan de Castro.


Até hoje a Segunda Guerra Mundial parece interferir no país de Fidel Castro e na cultura mundial. Quando se fala em Regime Hitlerista, as pessoas, de um modo geral sentem um ligeiro calafrio, pois não há como dissociar o nome Hitler —, com seu bigodinho cruel — do fatídico holocausto, uma crueldade que dizimou milhares de homens, mulheres e crianças. Dada a essa analogia exterminista, muitos homens, principalmente judeus desprezam o uso de bigodes à escovinha em prol da adoção de espessas barbas.
Vale dizer que não só os judeus, mas os adeptos da cultura capilar espessa. As barbas ocultam ligeiramente a intenção da face, embora sejam os olhos quem ditam as piores, também as melhores intenções e sentenças. Assim, uma nova cultura veio para derrubar o velho mito da história mundial da crueldade e criar uma nova expectativa em prol do uso do bigode: a cultura da moda.
Num mundo altamente competitivo, em que as mulheres disputam de igual para igual o espaço que outrora fora destinado aos homens, até mesmo certos costumes foram introduzidos ou adotados em ambas as partes para testemunhar que a luta por espaço continua acirrada. Enquanto muitos jovens do sexo masculino preferem a pele imberbe, muitas mulheres, ao contrário, talvez para fazerem as pazes com o injusto mundo da moda, acabam pagando um alto tributo ao adotar o bigodinho à la Hitler. Não seria mais fácil se cada qual ficasse no seu quadrado? Assim pouparia os indecisos dessa dinâmica imbecil de procurarem a si próprios no quadrado do outro. Enquanto uns abandonam o próprio espaço em busca do espaço do outro — outro, mais esperto o ocupa. Quando o desavisado nômade, após perambular e não encontrar o que procura, e deseja voltar, o seu antigo espaço já está ocupado. E a disputa continua. De dia Maria, de noite João, de novo Maria, depois João Maria, mais tarde Maria João. No entanto, certos costumes nada têm em comum com beleza, desde que satisfaçam as regras da ditadura midiática.
Não há de ser diferente no mundo das celebridades do cinema, da televisão e das passarelas. Embora não haja necessidade de inteligência para estampar a capa de uma revista de moda, a escolha do currículo para tais funções estrelares carecem de grande conhecimento do objeto de seus anseios.
O Diretor Publicitário da revista selecionou dez currículos de uma pilha enorme sobre a mesa. Aquela era a última das candidatas daquele rol. Ele estava cansado e ainda não havia encontrado ninguém interessante:
— Seu nome completo? Fernanda Costa Campos Cotote. Ele achou o nome engraçado, mas muito longo. Ele reprimiu uma risadinha ao associar o último nome a um coiote. Quem sabe um pseudônimo...
— Caso viesse a ser selecionada, gostaria de ser conhecida com que nome?
— Nanda Costa. Ele começava a gostar dela agora. O nome soava bem.
— Sua idade?
— Vinte e sete anos.
— Onde nasceu minha querida?
— Paraty – RJ.
— Onde mora atualmente?
— São Paulo.
— Com a família?
— Não, moro sozinha. Não gosto que alguém diga o que posso ou não fazer. O sorriso dele agora foi amplo.
— Ótimo — fez o diretor e deu um sorriso que mais prometia que revelava suas intenções. Aquilo começava a ficar interessante. Ele resolveu ir direto ao assunto.
— Já fez algum trabalho artístico?
— Já.
— O quê, por exemplo?
— Fiz um book de fio dental em Copacabana e um ensaio para o meu namorado em Abricó. Dizem que ficaram uma verdadeira obra de arte. O diretor passou a língua nos lábios.
— Posso vê-los?
Claro — ela resolveu ir fundo na entrevista. Ela queria muito aquele papel. O diretor começou a folhear o book. Via-se que ele estava inquieto, pronto para se levantar da cadeira, de tanta tensão. Foi então que ele fez a pergunta que estava entalada na garganta, desde que começou a folhear o book.
— Qual o seu maior sonho artístico?
— Posar para a Playboy. Isto lhe bastava. Os outros itens da entrevista não tinham nenhuma importância para ele, até porque as perguntas a respeito de curso superior, quantos livros já lera durante o ano estavam em branco.
— Nada consta. Crítico como era, o diretor logo associou o nome Nanda Costa a um cérebro vazio, fácil de ser manipulado. Ele fez um trocadilho por demais justo: Nada Consta.
Bingo. O diretor sabia que acertara na escolha, desde o momento em que batera os olhos naquele currículo. Realmente naquela cabecinha nada constava que alguém como ele pudesse avaliar como útil e inteligente. Algo que poderia contribuir com a sociedade. Nada constava. Mas ela possuía o que ele jamais encontrara nas outras entrevistadas. Era segura e espontânea. Falava o que lhe vinha à boca.
O ensaio fotográfico para a capa da Playboy de Agosto foi apenas uma mera consequência do trabalho que Nanda Costa desempenhara tão bem na televisão e no cinema. Era espontânea, fotografava bem e não parecia intimidada com os flashes das câmeras.
Ao ser questionada sobre qual país escolheria para cenário, ela foi categórica:
— Cuba. O diretor ainda tentou dissuadi-la da ideia e sugeriu a Jamaica pelas belezas naturais. Ela deu uma risadinha enigmática. Prefiro Cuba. Ninguém entendeu o motivo daquela risadinha. E ela se deixou passar por uma idiota. Em silêncio. Era melhor assim a dar a entender que realmente o era.
Mas ela já era uma estrela, poderia se dar ao luxo de escolher o cenário em que haveria de se expor em oferenda aos deuses de sua adoração ou então ao sacrifício, como num prato de farofa.
No entanto, o mistério da escolha de Cuba só foi revelado quando ela se despiu para as lentes de JR Duran. A barba espessa ocultava a face, ainda que não ocultasse a intenção dos olhos. Nanda se sentia totalmente segura. Totalmente mulher.
Quando, no lançamento da revista, diante de vários microfones, alguém questionou a espessura da barba, ela segredou aos quatro ventos com o humor que caracteriza as pessoas dotadas de grande conhecimento cultural:
“— Jamais faria bigodinho de Hitler na terra de Fidel”. Eles riram e só então entenderam o porquê de ela ter se recusado a fotografar na Jamaica.


REIS, Jonan de Castro. Poeta, Contista e Romancista. Membro da Academia de Letras do Brasil – ALB, membro da Academia de Letras do Extremo Sudoeste de Goiás – ALESG e da Associação dos Poetas Del Mundo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A SUBLIME RENDIÇÃO



REIS, Jonan de Castro

Os traços multicores do arco íris,
A aquarela pintada no céu infinito
Selam eternamente uma jura:
Harmonia entre Criador e criatura
Perfeito é o Criador
De igual medida a criatura
Os noivos estão trajados para a cerimônia:
Os vestidos brancos traduzem a pureza
Os vestidos negros denotam austeridade
A sinceridade do compromisso
Que ora se firmam mediante o selo do anel
Dos pescoços esguios em formato de coração
Sob o arco-símbolo do amor
Os noivos executam os passos da valsa nupcial
Nas pontas dos pés o balé une os corpos
Flechados pela seta do cupido
Que traspassam os olhos
Fere o peito e tinge de escarlate os chapéus
Que ornamentam o traje de gala:
É a valsa da sublime rendição.

A COISA



A Coisa que hoje coiso
É uma coisa muito engraçada
Por ter muita facilidade para coisar
Acabou coisando muitos corações.
Quatro anos coisando juntos
Coisava na sala de ensino
Coisava no teatro, coisava na arena, ao ar livre
Mas, no pátio da escola a Coisa era mais divertida.
Essa coisa tão simples e sorridente
De um coração grandioso e inteligente
Para alguns uma simples coisa
Para muitos uma coisa, coisada no coração com muito carinho.
Mas, essa coisa de Poeta
É uma coisa complicada
Coisar coisas com coisas
Coisar as coisas para formar coisas
Ao final, cada coisa tem que virar uma coisa.
Mas a coisa da qual coiso
Não é uma coisa que se mede com qualquer coisa
É uma coisa que coisa forte dentro da gente
Só sei de uma coisa:
Enquanto meu coração continuar coisando
Sei que essa Coisa coisará em meu âmago
E inundará de coisas boas a minha lembrança
E fará maior ainda a minha alma de Poeta.



REIS, Jonan de Castro. Poeta, contista e romancista. Autor de Arremedo: Contos & Lorotas (2009); e Marcas do Infortúnio (2010) (romance). Membro da Academia de Letras do Extremo Sudoeste de Goiás – ALESG; membro da Academia de Letras do Brasil – ALB; membro da Associação dos Poetas Del Mundo.